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O Xadrez nas obras de J. R. R. Tolkien

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Eduardo Stark

O universo de J. R. R. Tolkien contém diversas batalhas entre as forças dos elfos e as que estão do lado dos Orcs. Em se tratando de guerra, logo somos levados a imaginar estratégias de combate e isso implica em pensar em tabuleiros e peças.

É certo que Tolkien influenciou diversos ramos da nossa cultura ocidental. Dentre eles a música, teatro, cinema etc. Mas um dos campos que exerceu maior influência foram os jogos de mesa, em especial os relacionados ao RPG.

Na história da humanidade o Xadrez foi um jogo de tabuleiro e peças muito valorizado como fonte de disciplina, atenção, raciocínio e estratégia. Por conter peças que remetem a batalhas medievais o jogo sempre esteve associado a essa período, muito embora seja bem mais antigo.

Há evidências que o Xadrez tenha surgido há centenas de anos, talvez na índia por volta do século V d.c. Mas esse é o tipo de informação imprecisa, e por isso a origem desse empolgante jogo é ainda não totalmente conhecida. Fato é que chegou à Europa no final da idade média e desde então tem sido amplamente utilizado, passando a ter um espaço na cultura ocidental.

O Xadrez foi (e ainda é) visto como uma forma de se demonstrar uma alta capacidade de raciocínio, mostrando o valor de uma das espécies de inteligência humana. Passou a ser ensinado em escolas e a ocorrerem campeonatos de alta qualidade pelo mundo.

Com isso, o jogo se tornou popular tendo até mesmo sido utilizado como objeto de política. A própria forma polarizada do jogo facilitava a associação da luta intelectual entre esses países e suas ideias. Durante o período da Guerra Fria foi utilizado como forma de propaganda da superioridade de uma nação sobre a outra. Eram constantes os embates entre enxadristas do lado dos Estados Unidos contra os que apoiavam a União Soviética.

Xadrez Metre Gandalf (2)

Como Tolkien descobriu o Xadrez

 

Em plena Era Vitoriana, século XIX, a Inglaterra era considerada o centro do mundo e a maior potência econômica. E com isso o desenvolvimento cultural e intelectual do país parecia também florescer.

Passou a ser comum entre os britânicos saírem em pubs e clubes para jogar o Xadrez. Jovens e crianças eram ensinados e se divertiam em competições caseiras. O jogo passou a ser parte da cultura e até encarado com um certo profissionalismo além da diversão.

Com isso o xadrez passou a ser visto com um caráter de esporte entre intelectuais. Em 1851 foi disputado em Londres o primeiro torneio internacional. E desde então vários campeonatos foram realizados nas principais cidades da Europa.

Londres havia se tornado o principal centro do xadrez nesse período e foi por isso que se tornou sede do primeiro torneio internacional. Nesse tempo surgiram também os primeiros enxadristas profissionais, que inicialmente disputavam partidas em seus clubes.

Em 1904, o sucesso se tornou crescente a ponto de ser fundada em Londres a organização The British Chess Federation (BCF), que ficou encarregada de organizar os eventos sobre Xadrez naquele país. Um ano antes, o pequenino Tolkien aprendeu as regras do jogo.

Por volta da primeira ou segunda semana de Dezembro de 1903, a família Tolkien vivia em Birmingham. Era um período difícil, pois a renda era muito baixa e os meninos Tolkien deviam se dedicar aos estudos. O pai da família, Arthur Tolkien havia falecido em 1896 e deixou suas esposa Mabel Tolkien e os dois filhos John e Hilary.

Por ter se tornado Católica, em um país predominantemente protestante, Mabel Tolkien foi abandonada inclusive pela própria família que não aceitava sua conversão. Nisso, ela tinha muito contato com padres e pessoas ligadas a Igreja. Foi então que um desses jovens padres ensinou para o pequeno Tolkien como se jogava o Xadrez.

Em uma carta endereçada a sua sogra, em 16 de Dezembro de 1903, Mabel Tolkien narra como foi que Tolkien aprendeu a jogar xadrez:

“Um rapaz do clero, jovem e alegre, está ensinando Ronald a jogar xadrez – diz que ele leu demais tudo que é adequado a um menino com menos de quinze anos, e não sabe de nenhum clássico que possa lhe recomendar. (J.R.R.Tolkien, uma biografia, Humphrey Carpenter, 1992, Martins Fontes, p. 31).

Isso demonstra que Tolkien gostava muito de ler quando criança e era favorecido com uma boa inteligência. O xadrez veio como complemento para ampliar sua intelectualidade. É bem provável que Ronald Tolkien tenha jogado diversas vezes com seu irmão Hilary Tolkien.

Tolkien com seu cachimbo

Tolkien com seu cachimbo

Não há nenhum relato posterior sobre a relação de Tolkien como Xadrez. Mas é bem possível que ao longo de toda a vida o professor de Oxford tenha travado partidas com seus amigos. Em diversas reuniões que fazia com os Inklings ou mesmo com algum colega da Universidade. E evidentemente poderia desfrutar do jogo com sua esposa e filhos.

Fato é que ao final de sua vida, Tolkien estava mais isolado, especialmente após a morte de Edith. E para se distrair escrevia O Silmarillion e costumava se entreter com jogos, em especial o jogo Paciência. Como atesta Humphrey Carpenter:

“…passava pouco tempo trabalhando no Silmarillion…
Não obstante, continuou a ocupar-se dele, e poderia tê-lo pronto para publicação nessa época se tivesse sido capaz de adotar disciplina e métodos de trabalho regulares. No entanto, gastava boa parte do tempo jogando paciência, muitas vezes até tarde da noite…”. (J.R.R.Tolkien, uma biografia, Humphrey Carpenter, 1992, Martins Fontes).

Ao que parece o Xadrez foi importante para o Tolkien. Não apenas para seu desenvolvimento intelectual, mas também como uma constante lembrança dos melhores momentos de sua infância na época que sua mãe ainda estava viva. Uma prova disso são as referencias em suas principais obras.

O Hobbit e o Xadrez

Nas primeiras páginas dos manuscritos mais antigos do livro O Hobbit, Tolkien havia incluído duas referências ao Xadrez e sua origem na Terra-média. Na mesma oportunidade em que se narra as aventuras do Urratouro, tio-bisavô do Velho Tuk:

Ele atacou os pelotões dos orcs de Monte Gram, na Batalha dos Campos Verdes, e arrancou a cabeça de seu rei Golfimbul com um taco de madeira. A cabeça voou pelos ares cerca de cem jardas e caiu numa toca de coelho, e dessa maneira a batalha foi vencida [por xeque-mate] e ao mesmo tempo foi inventado o jogo de golfe [e o Xadrez]. (O Hobbit, Capítulo I, Uma Festa Inesperada).

Posteriormente as referências ao Xadrez foram retiradas. Isso talvez tenha acontecido por ser uma piada dos filólogos e que poderia ser muito comentado, pois “xeque-mate” tem origem do Persa shah mat, “O Rei está Morto”, fazendo referência ao fato do Rei dos orcs ter sido derrotado por xeque-mate.

Apesar de não haver mais o texto que provasse a origem do Xadrez no mundo de Tolkien, é de se supor que esse jogo ainda permanecia existente. Pois há diversas referências em O Senhor dos Anéis, que notoriamente foi escrito por Hobbits e por isso carregado de seu estilo e analogias ao que já conheciam.

Xadrez Metre Gandalf

Gandalf, o mestre do Xadrez

Em O Senhor dos Anéis, as referências ao Xadrez parecem ser claras. Isso devido ao clima de batalha. Gandalf e as forças do bem de um lado (peças brancas) e Sauron e as forças do mal do outro (peças pretas).

As principais referências estão relacionadas a fala de Gandalf, quando estava na iminência da Batalha:

O tabuleiro está armado, e as peças estão se movendo. Uma peça que desejo muito encontrar é Faramir, agora o herdeiro de Denethor. Não acho que ele esteja na Cidade, mas não tive tempo de colher noticias. Preciso ir, Pippin. Devo estar nesse conselho de senhores e obter todas as informações possíveis. Mas o lance agora é do Inimigo, e ele está prestes a abrir totalmente seu jogo. E é provável que os peões possam ter um campo de visão tão amplo quanto qualquer outra peça, Peregrin, filho de Paladin, soldado de Gondor. Afie sua espada! (O Senhor dos Anéis, Retorno do Rei, Livro V, Cap I Minas Tirith)

Gandalf chama Faramir de “peça” e da mesma forma que chama os hobbits de “peões”. Como se ele estivesse no controle do jogo e fazendo as estratégias para conseguir a vitória.

Essa comparação fez até mesmo o Pippin refletir sobre a função dele como peão em meio ao jogo:

Pippin olhou para ele: grande, altivo e nobre, como todos os homens que já vira naquela terra; um brilho faiscava em seus olhos ao pensar na batalha. “É uma pena, mas minha mão parece mais leve que uma pluma”, pensou ele, mas não disse nada. “Um peão, Gandalf dissera? Talvez, mas no tabuleiro errado.” (O Senhor dos Anéis, Retorno do Rei, Livro V, Cap I Minas Tirith)

Mas a referência a peças de jogo de xadrez não se vincula apenas ao personagem Gandalf. Tolkien também associa o jogo de Xadrez com o outro lado, o dos inimigos:

Ali, nas regiões do norte, havia minas e forjas, e a concentração de tropas para uma guerra longamente planejada; ali o Poder Escuro, movendo Seus exércitos como peças num tabuleiro, os estava reunindo. Seus primeiros movimentos, seus primeiros testes de força, haviam sido feitos sobre a linha ocidental, ao norte e ao sul. (O Senhor dos Anéis, Livro VI, Cap II a Terra das Sombras).

Percebe-se que tanto o lado bom, quanto o lado mal estão fazendo suas estratégias como um jogo de xadrez. Isso é evidenciado ainda mais quando se tem a noção de que Gandalf é o verdadeiro inimigo de Sauron. Em equivalência de poderes, porém em objetivos diferentes.

Os filmes de O Senhor dos Anéis e o Xadrez

 

Na versão estendida do filme O Senhor dos Anéis, A Sociedade do Anel, com direção de Peter Jackson, há uma rápida cena de hobbits se divertindo com um jogo de tabuleiro que lembra o Xadrez. Isso demonstrou a preocupação da equipe dos filmes em fazer algo bem detalhado.

Xadrez hobbits

Como produto do filme vários jogos de tabuleiro foram feitos usando os personagens e os cenários. Como o jogo de xadrez do Senhor dos Anéis abaixo:

Xadrez tolkien

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