Quantcast
Channel: Artigos – Tolkien Brasil
Viewing all articles
Browse latest Browse all 89

Os “hobbits”, uma gente que não é anã – Robert D. Evans

$
0
0

O sucesso de Tolkien já estava em grande crescimento desde seu lançamento em 1954-1955, porém no Brasil ainda não existia muita influência da obra e nenhuma tradução. Nem mesmo em Portugal existia traduções de obras do Tolkien, com exceção do livro O Gnomo (The Hobbit) publicado em 1962.

Assim, quase vinte anos após a publicação de O Senhor dos Anéis, temos pela primeira vez um artigo sobre Tolkien no Brasil. O texto que se segue foi escrito por Robert D. Evans e publicado pela primeira vez no Jornal do Brasil em 2 de dezembro de 1972.

Esse é o primeiro texto publicado no Brasil que trata sobre o professor Tolkien e suas obras. Por isso merece a devida atenção. Nessa época Tolkien ainda estava vivo. Ele só viria a falecer no ano seguinte, 1973.

O artigo serve para termos um pouco do pensamento da época sobre as obras de Tolkien e entender um pouco mais como a obra chegou no Brasil. Depois desse artigo, a editora Artenova se apresentou para a editora britânica a fim de adquirir os direitos dos livros e então publicou pela primeira vez a obra de O Senhor dos Anéis entre os anos de 1974 a 1979.

Eis a integra do artigo de Robert D. Evans:

——————————–

Londres – Um dos autores de best sellers atuais é um homem pouco conhecido, professor de Filologia da Universidade de Oxford, distinguido recentemente por essa Universidade com o título honorário de Doutor em Letras por sua contribuição à Literatura. Trata-se do professor Ronald Tolkien, Autor de The Lord of the Rings (Senhor dos Anéis), primeiro livro da trilogia sobre os hobbits.

Os hobbits são um povo gentil de baixa estatura, não chegando a ser anões. Eles são reconhecidamente ingleses e habitam aquela parte da Inglaterra que os leitores logo identificam como sendo um território no coração dos Midlands (condados centrais), onde nasceu Shakespeare. Grande parte dessa região está agora bastante industrializada, mas Tolkien escreve sobre ela recorrendo às suas lembranças de colegial, nos primeiros anos deste século, antes do advento do automóvel e do trator, quando ainda era uma zona rural e agrícola. (Tolkien está agora com mais de 80 anos).

Os hobbits como se descobre à medida que a história vai sendo contada, se envolveram no conflito humano entre o Mal e o Bem. Um deles é o único dono do Anel do Poder, que, caso caísse nas mãos do Senhor das Trevas, daria ao mundo por eles conhecido um poder maléfico.

O tema se desenvolve em torno da viagem épica de um grupo de hobbits, bravos mas assustados, sob a orientação de Gandalf, o Sábio, cuja magia é forte mas limitada, para a terra do Senhor das Trevas.

Se se quiser impedir uma calamidade, o Anel terá de ser derretido e destruído numa montanha de fogo no reino do poder maléfico. No curso de sua viagem através das grandes florestas de carvalho do tipo em que Robin Hood se abrigou, os hobbits encontram aliados: entre ele acham-se os anões, que são bons lutadores e corajosos, e os duendes, comandados por sua rainha, Galadriel, e que são a personificação da bondade num mundo onde esta qualidade de vida se acha na defensiva. O Senhor das Trevas também tem seus aliados, tais como os orcs, um povo vil e brutalizado cuja força está crescendo.

O Dr. Tolkien começou a escrever essa história como obra de erudição, mas de forma leve e humorística, para o que lançou mão de seu extenso conhecimento da velha poesia heroica inglesa e das sagas nórdicas da época em que os invasores escandinavos foram se estabelecer na Inglaterra. O seu domínio do idioma torna-se mais aparente na escolha das palavras e nomes com o objetivo de ajustá-los aos locais e personagens, em algumas frases, entremeadas na narrativa e nos diálogos, que possuem o sabor autêntico da História antiga, dos mitos e das lendas. Mas guerra é guerra, mesmo nesses dias longínquos, e assim como usou suas recordações de infância para retratar as áreas rurais, Tolkien recorreu às suas experiências nos campos de batalha de Flandres, na Primeira Guerra Mundial, para descrever cenas de desolação na terra sinistra do Senhor das Trevas.

Para grande surpresa do Autor, Lord of the Rings foi-se tornando aos poucos popular. Juntamente com duas obras que deram continuação ao mesmo tema e que já foram traduzidas em muitas línguas, calcula-se que pelo menos 50 milhões de pessoas já tenham lido esses três livros. O livro tornou-se uma saga, a saga um culto e do culto nasceu um grupo numeroso de entusiastas dos hobbits.

Um dos aspectos mais estranhos é a maneira como esses livros prenderam a imaginação dos estudantes, particularmente nos EUA. E também como a maioria dos jovens que vivem cruzando fronteiras, de continente para continente e de pais para pais, ajudou a disseminar as ideias dos hobbits.

Segundo o Dr. Tolkien, “os hobbits possuem o que se poderia chamar de moral universal; diria mesmo que são exemplos de filosofia e religião naturais.”

Mas a atração principal dos hobbits é sem dúvida a maneira como cativam a imaginação dos leitores, especialmente dos jovens, com suas visões de vida tranquila, numa espécie de terra própria de Sonho de uma Noite de Verão, em contraste com a vida que muitos deles têm de levar na cultura técnica de hoje, num mundo de violência e poluição ambiental.

O post Os “hobbits”, uma gente que não é anã – Robert D. Evans apareceu primeiro em Tolkien Brasil.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 89

Trending Articles