Por: Sérgio Ramos*.
O livro “O Hobbit”, lançado em 21 de setembro de 1937, dispensa maiores apresentações. J. R. R. Tolkien, além de escrever este clássico da fantasia, participou ativamente da produção do livro.
Tolkien não apenas fez mapas, belas ilustrações, criou a dust jacket (aquela capinha que cobre o livro de capa dura, especialmente nas edições britânicas), como também escreveu a sinopse do lançamento, que serviria de cartão de visitas para seu mundo subcriado.
Como sabemos, uma boa sinopse, para quem vive nas livrarias garimpando bons títulos, pode significar que você sairá da loja com um potencial mundo novo que irá lhe instigar a imaginação… Mas, também pode ser um eventual petardo que você não se interessou por falta de simpatia com o que dizia no livro sobre a história ali contida, e assim se perde a oportunidade de conhecer alguma obra-prima.
No mercado editorial, é comum serem lançados catálogos que servem para apresentar aos livreiros e ao público os futuros lançamentos de uma editora, incluindo sinopses das obras.
Via de regra, o departamento de marketing da editora é o setor responsável por escrever as resenhas dos lançamentos. No entanto, em relação ao catálogo da editora Allen & Unwin (a responsável pela publicação de “O Hobbit”), entitulado Summer Announcements, de 1937, havia um diferencial: a resenha da aventura de Bilbo Bolseiro foi escrita pelo próprio J. R. R. Tolkien!
Como o intuito do Tolkien Brasil é difundir o máximo possível de informações sobre o criador da Terra-média e não nos recordamos de já ter visto esta sinopse publicada alguma vez no Brasil, apresentamos aqui, em primeira mão (a princípio), a tradução livre para o português da sinopse escrita por J. R. R. Tolkien:
Se você gosta de viagens lá e de volta, para fora do confortável mundo Ocidental, sobre as bordas do Ermo, e em casa outra vez, e pode se interessar por um herói modesto (abençoado com uma pequena sabedoria, uma pequena coragem e considerável boa sorte), aqui está o registro de uma jornada assim e um viajante tal e qual. O período é a época antiga entre a era do Reino Encantado e o domínio dos homens, quando a famosa Floresta das Trevas ainda existia, e as montanhas eram cheias de perigos. Seguindo o caminho de nosso humilde aventureiro, você aprenderá, a propósito (assim como ele) – se é que você já não sabe tudo sobre essas coisas – muito sobre trolls, goblins, anões, e elfos, e captará alguns vislumbres da história e política de um negligenciado porém importante período.
Pois o Sr. Bilbo Bolseiro visitou várias pessoas notáveis; conversou com o dragão Smaug, o Magnífico; e está presente, muito de má vontade, na Batalha dos Cinco Exércitos. Isto é ainda mais notável, já que ele era um hobbit. Hobbits, até agora, têm sido preteridos em história e lenda, talvez porque eles, via de regra, preferem o conforto ao invés de agitação. Mas este relato, baseado em suas memórias pessoais, do ano mais excitante da outrora pacata vida do Sr. Bolseiro dará a você uma justa ideia do estimado povo que agora (é dito) está se tornando mais e mais raro. Eles não gostam de barulho.
A sinopse de Tolkien, é de se notar, parece ter sido escrita pelo mesmo narrador de “O Hobbit”, aquele que praticamente conversa com o leitor. A linguagem é simples, porém gostosa, pois segue a tradição do “Lá e de Volta Outra Vez”. A sinopse foi posteriormente publicada também na orelha da dust jacket da 1ª edição do livro, juntamente com observações da editora.

*Sérgio Ramos é membro da Tolkien Society e administrador do Tolkien Brasil. Servidor público, artista marcial e entusiasta de histórias de heróis.
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