Por: Sérgio Ramos*.
Pergunta: em que dedo Sauron usava o Um Anel?
Resposta: não é possível obtermos uma resposta com 100% de certeza a esta pergunta, mas é possível fazer algumas ilações.
Que Sauron perdeu o dedo após Isildur corta-lo junto com o Um Anel e ficou com apenas quatro naquela mão (mesmo quando reconstruiu seu corpo) já sabemos, vide as falas do Gollum, que foi torturado pelo próprio Senhor do Escuro em Mordor:
-Seria Minas Ithil, que Isildur, filho de Elendil, construiu – disse Frodo. – Foi Isildur quem decepou o dedo do Inimigo.
– Sim, Ele só tem quatro na Mão Negra, mas são suficientes – disse Gollum tremendo. – E Ele odiava a cidade de Isildur. (J. R. R. Tolkien – As Duas Torres, O Portão Negro Está Fechado) (destacou-se)
Se você ainda tem dúvida se Sauron tinha ou não corpo físico humanoide na época da Guerra do Anel, lei o artigo A forma de Sauron à época da Guerra do Anel.
Pelo menos uma certeza podemos ter: Sauron usava o Anel em sua mão direita. Tal constatação é possível de se fazer porque o próprio Tolkien fez um desenho do Inimigo para a capa de “O Retorno do Rei”, e este desenho mostra Sauron esticando o braço com uma mão completa com os cinco dedos em forma de guarras. Perceba que a mão é claramente a esquerda, onde não falta dedo algum:
Agora, a questão mais complicada: em que dedo da mão direita estava o Um Anel? O elemento mais próximo que temos para resolver o enigma é o dedo em que o próprio Frodo usou o Anel pela última vez. Isto é importante, pois ali nas Sammath Naur, no coração da Terra Negra, naquele derradeiro momento, foi quando Frodo finalmente sucumbiu à vontade maligna do objeto mágico, ou seja, foi quando ele reivindicou o Anel para si e não apenas para se esconder de algum adversário.
Pois Frodo colocou o dedo na mão direita (o que combina com a ideia do desenho de Tolkien de que a mão direita levava o Anel), e o fez no dedo que fica ao lado do mindinho, ou seja, o anelar. Este foi o dedo arrancado por Gollum. Senão vejamos a cena em que, após serem resgatados, os dois hobbits principais retornam do sono:
Lembrou-se daquele cheiro: a fragrância de Ithilien. – Graças! – cismou ele. – Por quanto tempo estive dormindo? – Pois o cheiro o carregara de volta ao dia em que ele acendera sua pequena fogueira sob o barranco ensolarado, e por um momento tudo o que se passara depois se apagou da memória consciente. Espreguiçou-se e respirou fundo. – Puxa, que sonho eu tive! – murmurou ele. – Estou feliz por ter acordado! – Sentou-se e então viu que Frodo estava deitado ao lado, dormindo tranquilo, com uma mão atrás da cabeça, e a outra descansando sobre a coberta. Era a mão direita e faltava-lhe o terceiro dedo. (J. R. R. Tolkien – O Retorno do Rei, O Campo de Cormallen) (destacou-se)
Ora, ele fala em terceiro dedo, então não seria o do meio? Negativo, pois o polegar não é contado como dedo – em inglês, o polegar é thumb, e finger qualquer outro dedo. A dúvida é sanada por Christopher Tolkien em nota publicada em Sauron Defeated:
Meu pai chamava o penúltimo dedo (o ´quarto dedo´ ou ´dedo do anel´) de ´terceiro dedo´; por isso em Frodo ´faltava-lhe o terceiro dedo´. (J. R. R. Tolkien – The History of Middle-earth, vol. IX – Sauron Defeated, The Field of Cormallen) (destacou-se)
Dedo do anel é uma expressão que aparece em várias culturas do mundo e, especialmente, na cultura ocidental pela tradição greco-romana. O dedo anelar é inclusive chamado, em latim, de digitus medicinalis ou digitus medicus. É o dedo onde se usa a aliança, de forte conotação de poder, estreitamento de laços.
Logo, como dissemos no início, não há uma resposta totalmente certa para a pergunta, mas é possível presumir que o Um Anel realmente fosse usado no que o próprio Tolkien chamava de “dedo do anel”, qual seja, o anelar (da mão direita), até porque foi nele que Frodo, na única vez em que reivindicou o Anel para si, o colocou na intenção de se tornar dono e senhor do artefato. Lembre-se que, quando Frodo colocou o Anel no dedo indicador da mão esquerda um pouco antes de ser esfaqueado pelo Rei-dos-Bruxos de Angmar no Topo do Vento, sua intenção não era de ter a propriedade sobre o Anel – detalhe importante numa obra onde os detalhes são fundamentais.

*Sérgio Ramos é membro da Tolkien Society e administrador do Tolkien Brasil. Servidor público, artista marcial e entusiasta de histórias de heróis.
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