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O gênero feminino no Legendarium de J. R. R. Tolkien – Parte 02

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Por: Cesar Augusto Machado*.

Publicado em: 26/02/2016.

Esta é a segunda e última parte do artigo sobre as mulheres dentro Legendarium de J.R.R. Tolkien. O artigo tem como objetivo reforçar o papel feminino no desenrolar das histórias, bem como ser uma sucinta, porém embasada fonte de pesquisa.

A primeira parte (confira AQUI) foi relativa às “deusas-anjos” e elfas, já o que se segue abaixo refere-se às humanas, hobbits, anãs, orcs, entesposas, aranhas e algumas outras personagens de difícil classificação.

Esperamos que você aproveite a leitura e nos deixe o seu comentário.

Mulheres humanas

Éowyn – A Senhora Branca de Rohan e Princesa de Ithilien

De repente o grande animal bateu suas asas hediondas, e o vento produzido por elas era nojento. Mais uma vez subiu aos ares, e depois se arremessou rápido contra Éowyn, guinchando, atacando com bico e garras.

Mesmo assim ela não recuou: donzela dos rohirrim, filha de reis, esbelta e ao mesmo tempo como uma lâmina de aço, bela mas terrível. Desferiu um golpe rápido, habilidoso e fatal. Cortou fora o pescoço esticado, e a cabeça decepada caiu como uma pedra. Pulou para trás no momento em que a enorme figura caiu destruída, as vastas asas abertas, inerte no chão; e com sua queda a sombra desapareceu. Uma luminosidade caiu ao redor de Éowyn, e seus cabelos reluziram aos raios do sol que nascia.” (O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei – Capitulo VI – A batalha dos Campos de Pelennor, página 145.)

Éowyn é sobrinha de Théoden, Rei de Rohan, mas foi criada como sua filha após a morte dos pais. Ela é sempre descrita como “bela”, “fria” e “triste” o que mostrava uma certa melancolia e mistério ao redor da personagem. Ao longo da narrativa entende-se que sua tristeza vem do ardente desejo de participar dos grandes feitos e batalhas, funções estas restritas apenas aos homens.

Éowyn vs O Rei dos Bruxos (arte de nachomolina).

Éowyn vs O Rei dos Bruxos (arte de nachomolina).

 Ao ser impedida de ir para a guerra contra Mordor, ela se disfarça de soldado e vai para Batalha dos Campos de Pelennor. Em um ponto crítico da narrativa, Éowyn decapita o monstruoso animal alado que servia de montaria para líder dos nazgûl (também conhecido como “Rei Bruxo de Angmar”).

 

Com ajuda do hobbit Merry, ela também derrota do poderoso nazgûl e assim é cumprida a profecia de Glorfindel (um importante elfo presente tanto no Silmarillion quanto no Senhor dos anéis) que dizia “o Rei dos Bruxos não cairia pela mão de um homem”.

 

Neste combate ela teve seu escudo quebrado e por isto nas canções feitas em sua homenagem na Terra dos Cavaleiros, ela ficou conhecida como “a Senhora do Braço do Escudo.”

 

Casou-se com Faramir, da casa dos regentes de Gondor, e tornou-se a Senhora da mais bela localidade de toda a Terra-média: Ithilien.

Erendis – a esposa do marinheiro

Às festas em Armenelos veio um certo Beregar, de onde habitava no oeste da Ilha, e com ele veio sua filha Erendis. Ali Almarian, a Rainha, observou sua beleza, de uma espécie raramente vista em Númenor; pois Beregar provinha da Casa de Bëor por antiga descendência, apesar de não pertencer à linhagem real de Elros, e Erendis possuía cabelos escuros e uma graça esbelta, com os límpidos olhos cinzentos de sua família.” (Contos Inacabados – Capítulo II – Aldarion e Erendis, a esposa do marinheiro- página 199)

Erendis e seu marido, Aldarion, Rei de Númenor, têm sua história contada nos Contos Inacabados, mais um dos livros póstumos de Tolkien. Apesar de Christopher Tolkien ter precisado fazer ajustes na narrativa, na minha opinião, essa história é o romance mais bem relatado de todo o Legendarium. Todos os aspectos do casal são relatados com riqueza de detalhes; como eles se viram pela primeira vez, os diálogos, o relacionamento, as diversas situações, a relação com a filha e o final decadente e tempestuoso.

Por sua beleza e acreditando que poderia casa-la com seu filho, a então Rainha Almarian, a chamou para ser uma de suas damas de companhia. Porém até o casamento se concretizar, temos um intervalo superior a vinte anos, pois o príncipe muito viajava e tinha o coração dividido entre Erendis e o Mar.

Ao noivarem, Erendis não quis as inúmeras joias oferecidas a ela. Pediu apenas que o seu diamante (que Aldarion a presenteou anos antes) fosse engastado como uma estrela em um filete de prata, que ela usava atado na testa. Por este motivo ela ficou conhecida como Tar-Elestirnë, a Senhora da Fronte Estrelada.

Sobre a pedra ser usada na testa temos um fato curioso:

Assim nasceu, dizem, o costume dos Reis e Rainhas posteriores, de usar como estrela uma pedra preciosa branca sobre a fronte, e não tinham coroa.” (Contos Inacabados – Notas do autor – Nota de nº18 – página 471)

Erendis teve uma filha com Aldarion, de nome Ancalimë. Mas mesmo isso não melhorou o casamento deles e depois de uma sucessão de mal entendidos, o casal de inflexíveis se distanciou de forma definitiva. Erendis não quis tomar posse do título de rainha e viveu exilada e nutrindo ódio pelo marido. Teve um final triste e solitário com uma morte nebulosa.

Ancalimë – a primeira Rainha de Númenor por sucessão

No ano de 892, pois, quando Ancalimë tinha dezenove anos de idade, foi proclamada Herdeira do Rei… A mudança da lei está mencionada no Senhor dos Anéis, Apêndice A, I, i: O sexto rei [Tar-Aldarion] deixou apenas um descendente, uma filha. Ela tornou-se a primeira rainha [isto é, Rainha Governante]; pois foi nessa época que se promulgou uma lei da casa real, segundo a qual o descendente mais velho do rei, fosse ele homem ou mulher, deveria assumir o trono. (Contos Inacabados – Capítulo II – Aldarion e Erendis, a esposa do marinheiro – página 240)

Ancalimë é uma personagem muito forte e mostra como Tolkien, levantou uma importante questão em suas obras: o direito de sucessão.

Por ter sido criada em um verdadeiro cabo de guerra entre pai e mãe, Ancalimë tinha traços fortes de arrogância, orgulho, frieza e acima de tudo era resoluta.

Por influência da mãe, Ancalimë gostava do conforto da casa e dos serviçais, e detestava a presença barulhenta dos homens. Já ao contrário de Erendis, gostava muito de joias, música e ostentação. Mas, assim como o pai, muitas vezes fazia o contrário do que lhe era aconselhado por terceiros (mesmo que isto fosse o correto a se fazer), apenas pelo prazer em desobedecer e mostrar que não se curvava a outros.

Com estas características somadas as brigas familiares, sua história é contada em uma série de ocorrências intempestivas e idiossincráticas.

Apesar de ter se casado, não foi feliz, nem como esposa e nem como mãe. Também dizem que o seu governo foi marcado pela negligência de diversas políticas importantes que tinham sido estabelecidas por seu pai. Seu filho foi o nono Governante de Númenor.

Morwen – A Senhora de Dor-Lómim

Húrin casou-se Morwen, a filha de Baragund, filho de Bregolas, da Casa de Bëor; portanto, ela era parenta próxima de Beren Maneta. Morwen era alta e de cabelos escuros, e graças à luz de seu olhar e à beleza de seu rosto, os homens a chamavam de Eledhwen, bela como os elfos; porém era de um temperamento um tanto severo, e orgulhosa.” (Os Filhos de Húrin – Capítulo I – A infância de Túrin – página 36)

A história trágica de Morwen e sua família é contada originalmente no Silmarillion, porém com a descoberta de novas passagens da história, Christopher Tolkien publicou uma versão dita “completa” e mais densa da história no livro “Os Filhos de Húrin”.

Morwen unia uma série de caraterísticas marcantes, pois ao mesmo tempo que era bela, não 

Morwen (arte de kimberly80).

Morwen (arte de kimberly80).

demonstrava fraqueza ou dependência de terceiros, tinha um certo ar de realeza e criou seu filho para ser firme como uma pedra. Morwen extrapola o termo “resoluta”, pois pra mim ela é “estóica”.

Nos diálogos com seu marido ou mesmo em passagens onde seus pensamentos são revelados, percebemos que por traz da rigidez existe uma inteligência e perspicácias ímpares, além de um completo senso de proteção aos filhos.

Salvou seu filho da escravidão certa ao enviá-lo para ser criado no maior dos reinos de Beleriand: Menegroth de Thingol e Melian. Em contrapartida outras de suas escolhas foram infelizes, pois eram geralmente guiadas por sua intransigência. Ao não dar ouvidos à Melian e seu marido, selou o destino sinitro de sua casa, bem como dela mesma.

Niënor Níniel

No início do ano após a partida de Túrin, Morwen deu à luz sua filha, e chamou-a Niënor, que significa Lamentação;” (Os Filhos de Húrin – Capítulo IV – A partida de Túrin – página 80)

Filha de Morwen e Húrin, Niënor sempre acompanhou sua mãe em seus caminhos tortuosos e infestados de escolhas infelizes. Desejando encontrar Túrin, seu irmão perdido, foi escondida e sob disfarce em uma busca por ele através de Beleriand.

Nesta jornada ela teve um encontro sinistro e perturbador com o dragão Glaurung que a enfeitiçou. Fruto deste encontro, uma espécie de amnésia se apoderou de Niënor.

Ainda sob o encantamento malicioso do dragão, Niënor encontra seu irmão, mas ambos não se reconhecem, pois havia mais de vinte anos da separação entre eles. Deste encontro nasce um relacionamento incestuoso que veio a se somar as outras tragédias que envolvem Húrin e sua família.

Sua morte é uma cena forte e vertigionosa.

Haleth – A Senhora dos Halladin e a primeira líder dos homens

Haleth por força do destino se tornou a primeira mulher a ser a líder de um povo, os Halladin.

Haldad tinha dois gêmeos: Haleth, a filha, e Haldar, o filho. E os dois foram valentes na defesa, pois Haleth era mulher de grande coração e força. No final, porém, Haldad foi morto numa investida contra os orcs; e Haldar, que se apressou a salvar o corpo do pai da carnificina, foi abatido a seu lado. Haleth, então, manteve seu povo unido, embora eles estivessem sem esperanças;” (O Silmarillion – Capitulo XVII – Da chegada dos homens ao oeste – página 49.)

Haleth era muito amada por seu povo, o que fez que eles a seguissem por caminhos penosos até encontrarem abrigo na Floresta de Brethil Ela viveu na floresta até sua morte e seu povo ergueu sobre ela um túmulo com a forma de uma colina verdejante na parte mais alta da floresta, Tûr Haretha, a Colina da Senhora, Haudh-en-Arwen no idioma sindarin.

As Hobbits

A divisão de poderes entre homens e mulheres hobbits

Numa extensa carta Tolkien explica detalhadamente, como a família hobbit era dividida e cita como diversas “matriarcas” (inclusive a avó de Gollum) lideraram grandes famílias (como os Tûks e os Bolseiros, por exemplo), clãs e cargos (como o de Thain) durante décadas.

O texto é muito extenso, mas estabelece a igualdade de pesos com o nome de “’diarquia”, na qual senhor e senhora possuíam status iguais, ainda que funções diferentes.”

Para quem tiver interesse: Carta de nº 214, com destaque para as páginas 280, 281 e 282 inteiramente dedicadas ao assunto.

Elanor Gamgee – “a Bela”

Elanor é provavelmente a hobbit mulher mais famosa da história do Condado. Ela é a filha mais velha de Samwise Gamgee e Rosa Villa. No Condado a maior parte das mulheres ganha o nome de flores, mas Sam queria algo mais belo para a filha. Então, por sugestão de Frodo, ela foi batizada com o nome da famosa flor de salpicava os jardins de Lothlórien. O nome quer dizer “Estrela-do-Sol” em sindarin, pois a flor tem o formato de uma estrela, mas é dourada como o Sol.

Ela nasceu em 25 de março de 3021 (ano de 1421 para os hobbits do Condado; exatamente dois anos depois da destruição do Um Anel) e neste mesmo dia começa a Quarta Era pelo calendário de Gondor. Aos quinze anos de idade torna-se dama-de-honra da Rainha Arwen de Gondor.

Ela ficou conhecida como “a Bela” por causa de sua beleza; muitos diziam que ela mais parecia uma donzela élfica que uma hobbit. Tinha cabelos dourados, o que outrora era raro no Condado;” (O Senhor dos Anéis – Apêndices – O conto dos anos – página 509 – nota de rodapé nº 8.)

Casa-se em 1421 (ver citação abaixo) com Frastred de Ilhaverde, nas Colinas Distantes. Ainda temos que no ano de 1482, com a morte da esposa, Sam Gamgee visitou a filha e com ela deixou o Livro Vermelho do Marco Ocidental. Elanor relata que seu pai atravessou as Torres, foi até os Portos Cinzentos e atravessou o Mar, sendo o último dos Portadores do Anel.

Mudaram-se para o Marco Ocidental, uma região recém-colonizada nessa época (fora doada pelo Rei Elessar) entre as Colinas Distantes e as das Torres. Descendem deles os Lindofilhos das Torres, Diretores do Marco Ocidental, que herdaram o Livro Vermelho e fizeram diversas cópias com várias notas e adições posteriores” (O Senhor dos Anéis – Apêndices – Árvores genealógicas – página 517 – nota de rodapé.)

Rosinha – a Primeira Dama do Condado

Rosa Villa, mais conhecida como “Rosinha”, era filha de um influente fazendeiro do Condado. Ela é citada diversas vezes por Sam Gamgee, em especial ao retornar ao Condado depois da Demanda do Anel. Ao rever Sam, os diálogos de Rosinha dão a entender que ela sempre demonstrou interesse por ele e que esperava alguma iniciativa por parte do jovem hobbit. O capitulo “O Expurgo do Condado” tem algumas passagens engraçadas deste tipo de situação.

Entendo — disse Frodo —, você quer se casar, e ao mesmo tempo quer viver comigo em Bolsão? Mas, meu querido Sam, isso é fácil! Case-se o mais depressa possível, e então mude para cá com Rosinha. Há lugar suficiente em Bolsão para a maior família que você possa desejar.” (O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei – Capitulo IX – Os Portos Cinzentos, página 406.)

Quando Frodo disse isto, podemos dizer que foi “profético”, pois o casal fundou a família de sobrenome “Jardineiro” e tiveram treze filhos (sim, TREZE!). Seu marido foi Prefeito do Condado por sete vezes consecutivas.

Lobélia Sacola-bolseiro

A velha hobbit é conhecida por seus pequenos furtos e por sempre tentar se apoderar de Bolsão em todas as oportunidades de teve, como na ausência de Bilbo em sua viagem até Erebor e na saída de Frodo em sua jornada para Valfenda. São suportava o fato de Bilbo ter vivido “mais do que deveria” e muito menos de Frodo ter herdado a propriedade.

Para o leitor, esta personagem é muito mais cômica do que “irritante”, o que a faz protagonista de cenas muito engraçadas (muito mesmo!) no começo de “A Sociedade do Anel”. As cenas ao final de O Hobbit também são engraçadas, mas ela não é nominada como Lobélia, mas apenas como “prima”.

O desfecho de sua história ao final do “O Retorno do Rei” é comovente e envolve as pazes com Frodo e sua redenção pessoal. Desta forma os leitores criaram certo carinho pela personagem.

Avó de Sméagol – A Matriarca dos Grados

Sméagol-Gollum era na verdade um hobbit, da raça dos Grados, que viviam na região dos Campos de Lís, onde Isildur foi traído pelo anel. Ao que parece a avó de Sméagol era uma das líderes dos Grados da região.

Havia entre eles uma família muito considerada, pois era maior e mais rica que a maioria, que era governada pela avó, senhora austera e conhecedora da história antiga de seu povo. O elemento mais curioso e mais ávido de conhecimento dessa família se chamava Sméagol.” (O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel – Capitulo II – A sombra do passadol, página 72.)

Não duvido de que a avó de Sméagol fosse uma matriarca, uma grande pessoa à sua maneira…” (O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel – Capitulo II – A sombra do passadol, página 77.)

Aqui Gandalf explica que em prol da paz de sua comunidade, a avó de Gollum optou por expulsar o neto, visto que, de posse do anel, Gollum se tornará nocivo aos outros:

Começou a roubar e a andar por aí resmungando para si mesmo, gorgolejando. Por isso chamavam-no de Gollum e o amaldiçoavam, e lhe diziam para ir embora; sua avó, querendo paz, expulsou-o da família e o pôs para fora de sua toca.” (O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel – Capitulo II – A sombra do passadol, página 73.)

Mulheres anãs

Dís era uma princesa anã, irmã caçula de Thorin II Escudo de Carvalho e mãe de Fili e Kili.

Dís era filha de Thráin II. É a única mulher-anã mencionada nessas histórias. Gimli contou que há poucas anãs, provavelmente não mais que um terço de todo o povo. Raramente elas deixam seus lares, a não ser que haja grande necessidade. São tão semelhantes aos anões na voz e na aparência, e nas roupas que usam quando precisam viajar, que olhos e ouvidos dos outros povos não conseguem distingui-los. Isso deu origem entre os homens á tola crença de que não há anãs, e os anões “nascem da pedra”. (O Senhor dos Anéis – Apêndices – Anais dos reis e governantes – página 480 e 486.)

Sobre a reprodução e o comportamento dos anões e anãs temos:

É por causa do reduzido número de mulheres entre eles que a espécie dos anões se multiplica lentamente, e fica ameaçada quando eles não têm uma moradia segura. Pois os anões só se casam uma vez na vida, e são ciumentos, como em todos os seus direitos. O número de anões-varões que se casam é na verdade menos de um terço. Pois nem todas as mulheres se casam: algumas não desejam maridos, outras desejam algum que não podem conseguir e portanto não aceitam outro. Quanto aos homens, muitos também não desejam o casamento, concentrando-se em seus ofícios. (O Senhor dos Anéis – Apêndices – Anais dos reis e governantes – página 486.)

Entesposas

Existia distinção de gênero e a forma de sua reprodução é difícil de estabelecer. Barbárvore diz a Merry e Pippin que:

Mas nunca houve muitos de nós, e não aumentamos em número. Não houve entinhos — crianças, vocês diriam por uma conta interminável de anos. Sabem, perdemos as entesposas.” (O Senhor dos Anéis – As Duas Torres – Capitulo IV – Barbávore – página 95.)

Nas Cartas de J.R.R. Tolkien temos que:

Os Ents… do sexo masculino eram devotos de Oromë, mas as Esposas eram devotas de Yavanna” (As Cartas de J.R.R. Tolkien – Carta 2247 – página 318)

As Entesposas são assim como os Ents “seres com corpo vegetal (talvez arbóreo como os Ents), mas com espíritos” e são responsáveis por cuidar da vida vegetal de Arda. Os Ents eram “Pastores de árvores”, já as Entesposas gostavam de ter o domínio sobre o que cresce, por isto cultivavam e trabalhavam mais com “jardinagem” e “agricultura”. Esta foi uma questão chave para a vida em separado de Ents e Entesposas, uma discordância na forma de “cuidar” das plantas.

Acredito que as Entesposas de fato desapareceram para sempre, sendo destruídas com seus jardins na Guerra da Última Aliança, quando Sauron adotou uma política de terra queimada e queimou a terra delas contra o avanço dos Aliados… Algumas podem ter fugido para leste… Se algumas sobreviveram assim, estariam realmente muito afastadas dos Ents… Espero que sim. Não sei. ” (As Cartas de J.R.R. Tolkien – Carta 144 – páginas 173 e 174)

Orcs fêmeas

Muitas pessoas não acreditam, mas sim existem orcs “mulheres” e a reprodução dos orcs é da mesma forma que a reprodução humana:

…Melkor gerou a horrenda raça dos orcs, por inveja dos elfos e em imitação a eles, de quem eles mais tarde se tornaram os piores inimigos. Pois os orcs tinham vida e se multiplicavam da mesma forma que os Filhos de Ilúvatar…” (Silmarillion – Capitulo III – Da chegada dos elfos e do cativeiro de Melkor – página 49.)

No Silmarillion temos outras citações sobre a “multiplicação” dos orcs, além de insinuações de que eles seriam elfos “corrompidos” por Morgoth (vide Carta 212 – página 273). Abaixo está mais uma das várias citações da reprodução dos orcs.

Ali multiplicaram-se suas hostes de feras e demônios; e a raça dos orcs, criada tanto tempo antes, cresceu e proliferou nas entranhas da terra.” (Silmarillion – Da fuga dos noldor – página 91.)

Ainda no livro O Hobbit existe uma breve passagem, onde afirma que Gollum, quando cansado de sua dieta de peixes, utilizando-se do Anel, capturava orcs desgarrados ou “filhotes de orcs”:

Podia até se aventurar em lugares onde houvesse tochas acesas, que faziam seus olhos piscar e arder, pois estaria a salvo. É sim, são e salvo. Ninguém o veria, ninguém o notaria, até sentir seus dedos na garganta. Apenas algumas horas antes Gollum o usara para capturar um filhotinho de orc.“ (O Hobbit – Adivinhas no Escuro – página 81.)

Aranhas

Ungoliant – a mãe de todas as aranhas gigantes

Ungoliant, no entanto, renegara seu Senhor, por desejar ser senhora de seu próprio prazer, tomando para si todas as coisas a fim de nutrir seu vazio.” (Silmarillion – Capitulo VIII – Do ocaso de Valinor – página 82.)

Ungoliant (durante certo período) foi o único ser com tamanho poder que, Melkor só não foi morto por ela, pela intervenção de diversos de seus balrogs. Após este embate Ungoliant fugiu e só não entrou no Reino de Thingol pelo poder de Melian. Talvez seja uma maia, mas eu acho mais provável que ela seja um espírito não categorizável.

Sua fome insaciável gerou um boato sobre sua morte, de que ela “teria devorado a si mesma”. Pergunto-me se Tolkien não faz aqui uma reflexão sobre muitas questões da natureza humana, mas isto é apenas uma reflexão.

Laracna – a maior aranha da Terceira Era

Como Laracna chegara ali, fugindo da ruína, ninguém sabe… ela que chegara antes de Sauron… nunca servira a ninguém a não ser a si própria… última filha de Ungoliant…” (O Senhor dos Anéis – As Duas Torres – Capitulo IX – A Toca de Laracna – página 458 e 459.)

Laracana é uma descendente direta de Ungoliant e representa uma ideia similar à sua ancestral: uma fome insaciável. Ela provavelmente nasceu na Primeira Era de Arda e de alguma forma fugiu de Beleriand antes do cataclismo que submergiu o continente.

Dela descendem todas as aranhas gigantes citadas no Hobbit e no Senhor dos Anéis.

Sua teia era tão forte que Frodo e Sam só conseguiram abrir caminho por sua toca porque usaram Ferroada a espada élfica de Bilbo. Lâminas comuns não capazes de cortar suas teias.

Sam e Laracna (arte de John Howe).

Sam e Laracna (arte de John Howe).

Importante citar que Laracna NÃO era comandada de Sauron, eles seriam no máximo “aliados devido às circunstâncias” como disse o próprio Tolkien em uma carta:

Não há, assim, qualquer aliança entre Laracna e Sauron, o representante do Poder Escuro; apenas um ódio comum.” (As Cartas de J.R.R. Tolkien – Carta 144 – página 175)

Exceções

Fruta d’Ouro – a incógnita

Ao ouvi-la falar, os hobbits reconheceram a voz cristalina que tinham ouvido cantando. Deram alguns passos tímidos adiante, e começaram a fazer reverências, sentindo-se estranhamente surpresos e desajeitados, como pessoas que, batendo à porta de uma choupana para pedir um copo de água, tivessem sido atendidas por uma jovem e bela rainha-élfica toda coberta de flores.” (O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel – Capitulo VII – Na casa de Tom Bombadil – página 171.)

Fruta d’Ouro assim como seu companheiro Tom Bombadil são personagens atípicos e que não se 

Fruta D´ouro (arte de darth_coco).

Fruta D´ouro (arte de darth_coco).

enquadram em nenhuma categoria. Ela é por diversas vezes descrita como tendo muitas características élficas. Sua presença acalma os hobbits, sua voz e canto são agradáveis, seus movimentos e danças lembram elementos da natureza, dentre outras questões ela é entorpecedora.

Há quem entenda ela como um ser não categorizável, há quem a entenda como uma elfa e alguns acham que ela é uma ainur (uma maia talvez). Não há informações suficientes para um veredito. Eu particularmente acredito que tanto ela, quanto Tom Bombadil, sejam espíritos convocados pelos Valar (não necessariamente maiar) para ajudarem na criação de Arda. Por diversas vezes são citados outros “espíritos” no Silmarillion e a resposta me parece estar exatamente ai.

Tolkien na Carta 210 diz:

Fruta d’Ouro representa as reais mudanças sazonais em tais terras.” (As Cartas de J.R.R. Tolkien – Carta 210 – página 260)

Thuringwethil – a mensageira de Sauron

Ela era mensageira de Sauron e costumava voar sob a forma de vampiro até Angband; e suas enormes asas providas de dedos eram guarnecidas na extremidade de cada articulação com uma garra de ferro.” (Silmarillion – Capitulo XIX – De Beren e Lúthien, página 225.)

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Thuringwethil (arte de kimberly80).

Essa personagem deve ser provavelmente uma maia corrompida por Morgoth assim como os balrogs, Sauron e outros espíritos de poder. Esta é a única passagem onde ela é citada, mas é muito curiosa a ideia de uma “vampira” na Terra-média, pois a meu ver isto abre um leque de criaturas que poderiam ter sido criadas na mente de Tolkien se ele vivesse mais alguns anos. A tradução do seu nome em sindarin seria algo como “Mulher da sombra secreta”.

*Cesar Augusto Machado é entusiasta de Tolkien há vários anos e colaborador do Tolkien Brasil.

*Cesar Augusto Machado é entusiasta de Tolkien há vários anos e colaborador do Tolkien Brasil.

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