by Cláudia Letícia Pivetti
“Um produto é algo feito em fábricas; uma marca é algo que é comprado pelo consumidor. Um produto pode ser copiado por um concorrente; uma marca é única. Um produto pode ficar rapidamente obsoleto; uma marca de sucesso é eterna. “
Stephen King
O universo de Tolkien influenciou muitas pessoas, inclusive escritores que hoje fazem parte da literatura contemporânea, como George R. R. Martin, J. K. Rowling, Stephen King, Neil Gaiman. É notável perceber elementos de fantasia nas obras desses autores e algumas características das obras do professor, mas alguns devem se perguntar “Stephen King? Mas ele não escreve horror e o que Tolkien influenciou?”. Esse artigo irá mostrar as influências do Tolkien nas obras do “mestre do horror” Stephen King.
Stephen King, nascido no dia 21 de setembro de 1947 na cidade Portland – Maine, EUA, filhos de Nellie Ruth Pillsbury e Donald Edwin King. Stephen foi o segundo filho do casal e após a separação, junto com seu irmão, David (filho adotado), foram criados pela mãe. King passou sua infância em Fort Wayne, Indiana, e também em Stratford, Connecticut. Aos 11 anos, sua mãe, junto com Stephen e David, teve que voltar para Durham, Maine, pois seus avós necessitavam de ajuda.
King graduou na Universidade do Maine em 1977 e obteve qualificação para lecionar. Durante sua graduação participou do jornal da universidade “Maine Campus” e tinha sua própria coluna “King´s Garbage Truck”. Foi nessa época que Steve conheceu sua esposa, Tabitha, e se casou em 1971.
Sua primeira obra publicada foi “Carrie” que foi traduzida para o Brasil por “Carrie, a estranha”. King achou a história tão ruim que jogou no lixo o romance, mas sua esposa encontrou no lixo e foi quem incentivou o autor a continuar e publicar. Depois disso King se tornou famoso e suas obras são uma das mais vendidas no mundo.
Em 1999, Steve foi atropelado por uma van numa estrada perto da sua residência e ficou gravemente ferido. Mas o acidente não abalou o King ao ponto de parar de escrever, pois o mestre do horror continuou escrever mais e conseguindo mais fãs.
Aos 19 anos, King era fissurado por livros de ficção científica, policiais, de horror e quadrinhos, além de gostar muito dos filmes de caubóis do Velho Oeste. Explorava também gêneros que eram bem populares naquela época: fantasia, e foi assim que conheceu as obras do Tolkien. Resolveu escrever sua própria história de fantasia intitulada “A Torre Negra” e é nessa saga, composta por 8 livros, que encontramos várias citações dos livros “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis”. Porém Stephen não quis deixar sua obra parecida com a de Tolkien, pois tinha que fazer as coisas do jeito dele e não do jeito de Tolkien.
“Fiquei maravilhado com a mágica da história, com a ideia da jornada, a sua amplitude, e pelo tempo gasto em contar as lendas”
“Tinha que fazer as coisas do meu jeito. Não podia fazer as coisas do jeito de Tolkien, e se fizesse teria me dado muito mal […] Tinha que ser algo com os cenários escandinávicos de Tolkien […] mas não com seus personagens camponeses […]”- Coração Assombrado
A história de A Torre Negra é sobre a busca de Roland Deschain, o último da linhagem dos Eld e último pistoleiro, pela Torre Negra. Esta torre negra é o centro de todos os universos existentes, um ponto que existe em todos os espaços e tempos, e diz a lenda que no topo da torre estaria Deus, porem é algo que ninguém sabe, e para poder chegar a torre ele persegue o Homem de Preto, um ser que ele acredita saber a localização da Torre. O cenário de “O Pistoleiro” é o Mundo Médio, um mundo alternativo do nosso e envelhecido, deixando de existir.
Logo no prólogo do primeiro volume da saga “O Pistoleiro” ele escreve:
Os hobbits eram grandes quando eu tinha 19 anos (um número de alguma importância nas histórias que você vai ler).Havia provavelmente meia dúzia de Merrys e Pippins marchando pelo barro da fazenda de Max Yasgur durante o Grande Festival de Música de Woodstock, o dobro disso em número de Frodos, e Gandalfs hippies sem conta. O Senhor dos Anéis,de J. R. R. Tolkien, era tremendamente popular naquele tempo e, embora eu nunca tenha passado por Woodstock (certo, é uma pena), acho que fui no mínimo um meio-hippie. O suficiente, sem dúvida, para ter lido a coleção e me apaixonar por ela. Os livros da Torre Negra, como a maioria dos romances fantásticos escritos pelos homens e mulheres da minha geração. As Crônicas de Thomas Covenant, de Stephen Donaldson, e A Espada de Shannara,de Terry Brooks, são apenas dois dentre muitos), tiveram suas raízes nos de Tolkien.
Mas, embora eu tenha lido a coleção em 1966 e 1967, demorei a escrever. Reagi (e com um fervor algo tocante) ao ímpeto da imaginação de Tolkien — à ambição de sua história —, mas queria escrever uma história ao meu jeito e, se tivesse começado naquela época, teria escrito no dele. Isso, como a falecida Velha Raposa Nixon gostava de dizer, não seria direito. Graças ao senhor Tolkien, o século XX teve todos os duendes e magos de que precisava.- O Pistoleiro
É interessante perceber que durante a saga Steve faz menções de personagens dos livros do professor, mas não utiliza-os dentro da sua história e sim faz comparações com suas personagens e os lugares que elas percorreram.
Passaram acima de uma fissura que ziguezagueava num rumo norte-sul como um leito de rio seco… só que não estava morto. Lá no fundo corria um fino fio do mais escuro escarlate, pulsando como um batimento cardíaco. Outras fissuras menores esgalhavam-se dessa, e Susannah, que lera Tolkien, pensou: Isso foi o que Frodo e Sam viram quando chegaram ao coração de Mordor. Estas são as Fendas da Perdição.- As Terras Devastadas
É como se as personagens tivessem lido as obras de Tolkien e como elas são importantes para o próprio desenvolvimento. Encontramos também no livro “Canção de Susannah” uma personagem que gostaria de morar em Hobbiton, vivenciar a cultura do local, compara sua infância com o local.

Escritor Stephen King
“Gostara muito dos hobbits e achava que poderia passar o resto da vida em Hobbiton, onde o tabaco era a pior droga que rolava e os irmãos mais velhos não ficavam dias inteiros atormentando os caçulas. O pequeno chalé que John Cullum tinha no bosque o fazia voltar, com surpreendente força, àqueles dias e àquele período sombrio da sua vida. Pois o chalé transmitia de alguma forma uma sensação de convívio hobbit.” – Canção de Susannah
As obras de Tolkien influenciaram na vida das personagens da saga de King, algo que dificilmente encontramos em obras de outros autores que frisam a importância de Tolkien em suas escritas e vidas. King fez uma jogada esperta, com essas menções ele instiga o leitor a ler as obras do Tolkien, pois como uma pessoa irá saber o que é hobbits? Ou Hobbiton? E quem seria Sam, Frodo e Mordor? Pois alguns lugares da saga, King compara com lugares da mitologia de Tolkien e para um leitor ter uma maior compreensão é importante saber sobre essa mitologia.
Também encontramos na obra “Canção de Susannah” menções de Sam e Frodo, e se ambos enfrentaram algo parecido com o que as personagens do livro do King estão enfrentando.
“Tentou se lembrar se Frodo e Sam tiveram de enfrentar algo que se aproximasse dos horrores do mertiolato e não conseguiu se lembrar de nada. Bem, é claro que eles tinham duendes para curá-los, não tinham?” – Canção de Susannah
Em outra obra, “Insônia”, que possui ligações com “A Torre Negra”, também é visível menções de algumas personagens do Tolkien.
Quase tinha esperanças de que fosse, porque a palavra – Centuriões – começara a suscitar uma imagem muito mais terrível em sua mente cada vez que surgia: os ringwraiths da trilogia fantasiosa de Tolkien. Vultos encapuzados, que montavam cavalos esqueléticos de olhos vermelhos, atacando um pequeno grupo de hobbits amendrontados do lado de fora da taverna Prancing Ponny, em Bree.
Pensar em hobbits levou-o a pensar em Louis, e o tremor de suas mãos aumentou. – Insônia
Steve achava que ninguém leria a saga, pois era muito diferente de seus outros livros publicados.
“Eu não pensava que alguém fosse querer ler aquele livro”, disse. “Era mais uma fantasia à la Tolkien de algum outro mundo. E não estava completa. Havia muita coisa a ser resolvida, incluindo o que é essa torre e por que esse cara precisa ir para lá?” – Coração Assombrado
E até James Kidd, do jornal britânica The independent, disse “O Vento Pela
Fechadura faz alusões diretas a C.S. Lewis [autor de As Crônicas de Nárnia (1949-1954)] e a O Mágico de Oz (1900) de L. Frank Baum, além de ter uma forte dívida para com Tolkien e os westerns spaghetti de Sergio Leone”
Não encontramos elfos, anões, duendes, orcs, trolls, hobbits nas obras do King, muito pelo contrário, de alguma forma eles influenciam em algo na personalidade, na vida das personagens que Steve criou. Para alguns podem ser insignificante essas comparações, mas ajudam muito o leitor a entender melhor a personagem e o que acontece com ela. Pois King instiga muito a importância do leitor estar na pele delas e acorda seus maiores pesadelos que arrepiam e fazem sentir medo para o resto da vida.
Dois autores totalmente distintos, mas que de alguma forma se interligam. Possuem seus próprios estilo de escrita, suas próprias ideias, seus próprios “jeitos”, mas um influenciou e o outro transpassou o essencial dessa influência.
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