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Entrevista com Jane Johnson, editora de Tolkien e Martin – Por Lauren Sarnen

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Jane Johnson, editora de Tolkien e Martin, fala sobre fantasia e ficção científica, publicações e o elenco de O Senhor dos Anéis – Por Lauren Sarnen

Os artigos de Lauren Sarnen aparecem em vários sites de cultura, incluindo The Huffington Post, Page Views no The New York Daily News, e 20SomethingReads no The Book Report Nerwork. Ela também participa no The Overlook Express e Cosmopolitan.

Os artigos de Lauren Sarnen aparecem em vários sites de cultura, incluindo The Huffington Post, Page Views no The New York Daily News, e 20SomethingReads no The Book Report Nerwork. Ela também participa no The Overlook Express e Cosmopolitan.

Tradução: Sérgio Ramos.

Carreiras raramente seguem o plano originalmente proposto. Em Job Hacks, nós chacoalhamos jovens experts pela perspicácia que tiveram em seu caminho para o topo de sua especialidade.

Nome: Jane Johnson

Local de origem: Cornualha, Inglaterra.

Jane Johnson

Jane Johnson

 Trabalho: Jane Johnson é uma escritora e editora. Nos anos 80 e 90, ela era responsável pela publicação do trabalho de J. R. R. Tolkien e por trazê-lo para um público moderno. Nessa qualidade, ela encomendou as edições ilustradas por John Howe e Alan Lee dos romances. Johnson é agora a diretora de publicação na HarperCollins e foi uma das forças impulsionadoras em estabelecer a Voyager, sua marca de ficção científica e fantasia. Outros autores que ela publicou ou editou incluem pesos pesados como Robin Hobb e George R. R. Martin.

Como você começou?

Meu começo em publicações foi através de uma mistura de serendipidade e paixão. Eu vivia em Londres Ocidental e trabalhava numa casa de apostas local, onde, apesar de minhas graduações em inglês e islandês, eu acabei como marcadora de quadro e encarregada do caixa. Eu gostava, e tinha me tornado, pela primeira vez na vida, boa em contas; e uma especialista em corridas de cavalos e cães naquele ano. Mas não era exatamente a carreira que eu tinha previsto. Um dia, voltando para casa, cruzei com uma vizinha, Sarah, e começamos a conversar. Estando grávida, ela me contou que estava largando seu trabalho na Editora George Allen & Unwin. “É a editora do Tolkien!” eu guinchei. “Oh, você gosta desse tipo de coisa?” ela perguntou.

Gostar? Eu amava Tolkien. Eu tinha entrado n´O Senhor dos Anéis quando tinha 11 anos e – tenho vergonha de admitir – ainda tenho a cópia que eu surrupiei da biblioteca da escola, já que eu não podia suportar a ideia de me separar dele, ou compartilhar esse mundo mágico com mais ninguém.

Eu tinha uma graduação em inglês por causa do amor que a leitura do Professor Tolkien tinha gerado em mim, tendo me especializado em anglo-saxão porque era a própria especialidade dele; continuei com um mestrado em islandês antigo por causa do Edda Antigo e as sagas que lhe deram inspiração.

“Você sabe taquigrafia?” ela perguntou. “É claro”, eu menti. Romancistas nascem mentirosos, creio eu. Mas eles também solucionam problemas. Eu consegui o emprego – baseada em minhas inverdades, mas também por causa de minha paixão por Tolkien e, como meu novo patrão assinalou, porque depois de passar um ano trabalhando para Ladbrokes, eu estava não só apta com números, mas também entendia a natureza do jogo, o que me colocou numa boa posição no mercado editorial, onde cada livro aceito representa um risco calculado. Eu ensinei a mim mesma a datilografar e criei minha própria versão de taquigrafia, e fui promovida da desastrosa zona de secretariado para editora, com especial responsabilidade à lista de Tolkien, num prazo bem curto.

Já que você escreve e edita, há algum dos dois que você mais aprecia? Ou você acha que um se alimenta do outro; escrever faz você uma melhor editora e vice-versa?

Escrever e editar são dois lados da mesma moeda e o feedback das duas disciplinas é inestimável. Eu escrevo desde que eu tinha 7 ou 8 anos. Mas quando eu comecei a publicar, parei por cerca de 10 anos, tão intimidada que eu fiquei pelo talento dos autores com os quais tive contato. Mas, eventualmente, eu aprendi mais sobre a habilidade de escrever – e editar – me tornei menos aterrorizada pela mecânica e comecei a escrever de novo, e quanto mais eu lutava com meus próprios problemas de escrita, mais eu conseguia simpatizar e ajudar os escritores com quem eu trabalhava. Os desafios eram diferentes, lógico.

A criação oferece uma ordem completamente diferente de problemas para editar. Eu escrevo enormes e imersivos romances históricos de aventura. Eles tendem a ser longos e cheios de um grande elenco de personagens, e geralmente eu começo de uma base de ignorância pura, sobre pessoas e tempos que eu sei pouco ou nada, então preciso fazer um monte de pesquisa: um grande desafio. Como um alpinista, eu frequentemente comparo o processo de começar um romance a ficar na base de uma longa escalada cujo topo está obscurecido pelas nuvens: você sabe que vai ser um trabalho árduo e longo e você tem uma boa ideia de como começar a subida, mas apenas uma vaga ideia de como você vai chegar ao topo. É assustador!

Editar um grande e complexo texto pode também ser assustador à sua própria maneira. Cada livro, cada escritor, é diferente na forma como eles lidam com seus romances, como eles reagem a sugestões e edições; quão rigorosos eles são na escrita, quão consistente é a caracterização e eventos, etc. Como editor, seu trabalho é ajuda-los a entregar a melhor versão de suas visões ao leitor, e esse pode ser um trabalho sensível, dependendo de quão bem vocês trabalham juntos. Eu tenho frequentemente dito que ser uma boa editora combina as habilidades do psicólogo, do domador de leões e do pescador: compreensão, coragem e paciência; bem como empatia, clareza, flexibilidade e humildade – esta última provavelmente sendo a mais importante. Alguns editores, se achando certos, tentarão impor suas visões do texto ao autor à força, mas é crucial recordar que, em última instância, o livro pertence ao escritor, cujo nome vai na capa.

Você é mais uma psicóloga, uma domadora de leões, ou uma pescadora com os trabalhados mais épicos como A Canção de Gelo e Fogo? Você precisa de planilhas para acompanhar?

Eu sou a editora do George no Reino Unido. Eu leio e forneço comentários através de Anne Groell, sua editora principal em Nova Iorque. Ela trabalha o texto com ele. Ele tem um cérebro do tamanho de um planeta e um banco de memórias excepcional para todos os seus personagens, histórias e fatos sobre seu mundo; mas também um time de fãs dedicados (particularmente Linda e Elio no westeros.org) que conferem e reconferem detalhes para ele. E, é claro, agora há O Mundo de Gelo e Fogo para fornecer uma enciclopédia com o pano de fundo.

Com outros escritores de longas séries épicas – como Robin Hobb – eu faço anotações e uma folha estilizada para verificar e, neste caso em particular, Anne envia suas notas editoriais para mim: um arranjo bem recíproco.

Com uma série como a de George R. R. Martin, você acha que trata o material de forma diferente agora que sua série se tornou tão grande? Ou você tenta sintonizar-se com o fato de que seus livros têm um público tão apaixonado e difundido?

Sua responsabilidade ainda é fazer o melhor livro possível, não importa o sucesso ou fama do autor, e eu sei que George não nos agradeceria por trata-lo de forma diferente. No máximo, faz você ficar ainda mais crítica e cuidadosa, porque há tantos olhos em cima do trabalho.

O que você diria que são as qualidades primárias que você busca nas obras que você aceita editar?

Para mim, é tudo sobre a voz. Ler um livro, qualquer livro (e eu não edito apenas ficção científica e fantasia, mas também thrillers – eu sou a editora britânica de Dean Koontz, Jonathan Freedlan/Sam Bourne e o mais recente best-seller n. 1 do Reino Unido, The Ice Twins, de SK Tremayne) – é como fazer uma jornada com uma companhia de viagem com quem você está conversando. A voz que vem daquele livro precisa ser envolvente, te pegar, fazer você querer passar seu tempo na companhia do autor.

Recentemente, dois brilhantes exemplos disso, para mim, foram Mark Lawrence – autor dos livros dos Espinhos (Príncipe, Rei e Imperador dos Espinhos), Príncipe dos Tolos, The Liar´s Key e The Wheel of Osheim – e Joe Abercrombie, cuja brilhante série para jovens adultos Half a King, Half the World, e Half a War que eu acabei de publicar. A voz de Mark é concisa, afiada, lírica, e marca mais com linhas memoráveis do que qualquer outro escritor que eu possa citar. Joe tem domínio absoluto de sua narrativa, e a voz é afiada e esperta e ri alto e de forma engraçada; mas também obscura, e às vezes muito romântica.

É claro que a história é crucial: você deve querer virar as páginas, mas a voz é algo que faz um autor único.

Como você tem visto o gênero de fantasia evoluir através do curso de sua carreira – particularmente desde seu próprio papel em Voyager e quando seu crescimento a pôs no coração dele?

A fantasia se tornou mais enérgica, obscura, e mais realística com o passar dos anos, se distanciando de elfos e magia. Eu vi o começo disso com os livros sobre Thomas Covenant de Stephen R Donaldson nos anos 80, e certamente A Canção de Gelo e Fogo de GRRM é a epítome da fantasia tonificada mais pela política real do que pela magia. Mas, você sabe, há momentos bem obscuros em O Senhor dos Anéis, ao lado da poesia, elfos e lirismo. Se eu tivesse que resumir a mudança que vi em meus 30 anos, é que nos movemos de uma moral universal preta e branca para uma com muitos tons de cinza.

Você trabalhou intimamente com várias séries que foram criticamente aclamadas para adaptações nas telas, desde programas de TV como Game of Thrones a filmes como O Senhor dos Anéis. Qual sua opinião sobre adaptações – você as assiste ou tenta não ver? E como alguém que está numa posição única – você está longe de ser uma espectadora casual, mas você também não é a autora – como sua relação com a obra impacta sua experiência de espectadora?

Em um mundo ideal como editora de uma série em andamento, você evitaria a adaptação para manter a criação primária pura em sua mente… Mas nós não vivemos num mundo ideal, e assistir e estar ciente das diferenças das adaptações faz parte do meu trabalho tanto quanto trabalhar no texto. Eu devo dizer que eu estava nervosa com a adaptação cinematográfica do Peter Jackson de O Senhor dos Anéis – eu não conseguia imaginar como um cineasta poderia fazer justiça à Terra-média, quanto mais aos personagens com os quais cresci.

Mas quando eu saltei do carro da produção que me levou do aeroporto às encostas das colinas sobre uma molhada e nevoenta Queenstown, na ilha do sul da Nova Zelândia em setembro de 2000, e eu vi Gandalf e Boromir emergindo da névoa, eu estava na Terra-média, e fiquei imediatamente extasiada. Passei meses com a produção através dos 3 anos de filmagens (como Jude Fisher, eu escrevi os Guias Visuais que acompanharam os filmes) e então retornei para a adaptação de O Hobbit. Fui pescar com Aragorn, Legolas, Merry e Pippin, assisti futebol com o Rei Théoden, bebi com Frodo, Sam e Boromir; comi peixe e batatinhas com Eowyn. Eles me apelidaram de “o décimo membro da Sociedade”. Amei as versões estendidas dos filmes de O Senhor dos Anéis: eles não são totalmente fiéis ao livro, mas filme é um meio diferente do mundo escrito, e esta é a verdadeira natureza da adaptação, mas eles capturam muito da verdade e espírito do original. Eu aceito totalmente que mudanças devam ser feitas – e que às vezes pode ser frustrante se você conhece bem o original – mas algumas vezes as mudanças podem dar uma clareza maior e nitidez à história.

Eu não tive a luxúria, ou a sorte, de passar um tempo com a produção de Game of Thrones, mas devo dizer que amei assistir a série e estou muito impressionada pelo elenco e o visual da série: os figurinos e sets são gloriosos e eu não poderia imaginar Tyrion de outra forma que não fosse personificada por Peter Dinklage.

Peter Dinklage

Peter Dinklage

Este é o problema de estar na era moderna: a imagem visual tem tanta supremacia que ofusca o texto escrito para você. Não creio que haja uma maneira de manter as duas entidades separadas, exceto se você evitar completamente a TV e internet.

Você tem alguma história sobre pescar com Aragorn, Legolas, Merry e Pippin? Como foi isso?

Algumas fotos aqui – uma do time da Voyager em 1995 – um time feminino!

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E do artigo do Viggo na edição de Natal da revista Empire de 2011 mostrando Dom Monaghan com a truta que ele pegou no dia que fomos pescar no Te Anau.

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Levamos nossas capturas de volta ao bangalô de Viggo onde discutimos qual a melhor maneira de cozinha-las (eu sugeri cozinha-las em folha: Viggo decidiu de sua própria maneira e o peixe explodiu no forno… Merry e Pippin fizeram ao molho curry) e nós servimos ao resto da Sociedade: foi uma tarde amável. Muitas boas memórias como essa – demais para lista-las. Nós ainda somos amigos.

Quais são alguns dos seus próprios favoritos no gênero da fantasia? Você acha que o gênero da ficção é marginalizado no mundo literário, ou você acha que limites entre mainstream, literatura, e gênero ficcional estão caindo?

Eu sou uma editora muito sortuda – me envolvi em publicações de muitos dos meus favoritos absolutos no gênero – Kim Stanley Robinson, George R. R. Martin, Jack Vance, Robin Hobb, Guy Gavriel Kay, Isaac Asimov, Arthur C Clarke, Raymond Feist, Stephen Donaldson, David Eddings, Mark Lawrence, Michael Marshall Smith, Joe Abercrombie, Megan Lindholm, Stephen King, Dean Koontz, Peter Straub, Peter V Brett. Eu também amo Patrick Rothfuss e Bem Aaronovitch.

Novos favoritos incluem Ember in the Ashes de Sabaa Tahir – a resposta da Voyager a Jogos Vorazes – e Station Eleven de Emily Mandel.

Eu leio muito, no entanto, e não apenas ficção (últimas leituras foram Us de David Nicholls, Carrying Albert Home de Homer Hickman, Landmarks de Robert Macfarlane, Wild Swans de Jackie Morris); e a internet quebrou muitas barreiras de marketing que costumavam consignar livros do gênero a um canto escuro da livraria. E a imensa popularidade de Game of Thrones abriu o gênero a pessoas que nunca se viram como fãs de fantasia: todos devemos ser gratos a George por isso.

Que conselho você daria a aspirantes a escritores?

Eu digo a todos os editores jovens: não siga o mercado, siga seu instinto visceral! Leia tanto quanto puder fora de seu serviço para qualidade na escrita e como contar histórias, aprenda o que faz diferentes estruturas cativarem de forma que você reconheça algo especial quando vê. E então se apegue às suas armas. Se você acha que é excelente, lute com unhas e dentes para adquiri-la, e depois fique preso nela para a publicação a longo prazo. Este é o trabalho do editor: manter o entusiasmo alto ao redor de um novo autor, lembrando os colegas de que necessita a sua atenção e apoio. Pode ser exaustivo, mas você é o único defensor que um autor tem numa editora, então, se você pega um escritor para si, é sua responsabilidade dar a ele a melhor experiência possível para ser publicado por sua empresa.

A entrevista foi traduzida com a devida autorização de Lauren Sarnen e originalmente publicada no portal INVERSE (clique para o artigo original) em 24 de novembro de 2015.

O post Entrevista com Jane Johnson, editora de Tolkien e Martin – Por Lauren Sarnen apareceu primeiro em Tolkien Brasil.


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